O meu pai trabalhava no Ambriz como contabilista e não podia ficar indiferente aos militares que ocuparam o Ambriz - muitos sem "saber ao que iam". Como as acomodações no quartel eram precárias, o meu pai ofereceu a sua casa a muitos oficiais militares, normalmente aqueles que levaram as esposas para Angola. Fizeram-se então muitas amizades mas infelizmente, interrompidas com o regresso desses militares quando chegava o fim da comissão. O meu pai sentiu a necessidade de apoiar quem o apoiava, neste caso a tropa portuguesa que estava ali a defender território português em condições deficientes mas impostas pelo regime de Salazar. Então os dois Auster do Aero Clube, com o meu pai como piloto, fizeram inúmeros serviços para o Exercito Português, nomeadamente a evacuação de feridos das ZO's (zonas operacionais) para Luanda, transporte de víveres e de correspondência aos militares em ZO's. Os aviões também traziam algo inapalpavel as soldados deslocados - um sentimento de segurança e de poderio sobre o inimigo. Muitas das pistas em ZO's eram feitas pelos próprios soldados, que desbravavam mato e alisavam o chão de terra para possibilitar as aterragens. As aterragens e as descolagens dos aviões eram feitos com os soldados a ladearem a "pista" improvisada com as armas apontadas ao mato.
Possuo uma carta do Comando Militar de Angola a elogiar e a agradecer os serviços prestados pelo meu pai ao Exército Português.
Naturalmente o meu pai criou muitas amizades no seio da tropa e , se se lembrava de alguns comandantes não se lembraria de todos os militares, pois o piloto era só um e os militares eram muitos. Era mais fácil serem eles a lembrarem-se da sua cara. Daí que, em 1976/1977, quando o meu pai trabalhava em Lisboa, era muitas vezes abordado na rua e no Metro por ex-combatentes que o cumprimentavam com alegria entabulando, logo ali, conversações animadas sobre o passado conjunto nas "matas do inferno".
Os irmãos Fernando, Jorge, Lena e Kady Duarte (eu) posando ao lado de "O Desejado"

Fernando, Kady, Jorge e Lena, novamente com "O Desejado"
Fernando Duarte (1959-1998) posando ao lado do Auster
O "hangar" improvisado ao lado da nossa moradia no Ambriz
O hangar do Aero Clube do Ambriz, construído mais tarde

Pista Três Marias inaugurada pelo meu pai em 09-05-1964

O meu pai na pista improvisada no Quixico com o avião "Kaúlza de Arriaga"

O meu pai na pista improvisada Furriel Dantas com o avião "Kaúlza de Arriaga"

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